Treino de Marcha em Solo e Esteira: Qual o Melhor Caminho para Pacientes com Distúrbios de Movimento?
Se você atua com reabilitação neurológica, já se deparou com essa dúvida: devo priorizar o treino de marcha no solo ou na esteira? A resposta, como quase tudo na fisioterapia baseada em evidências e função, é: depende. Mas depende de quê? Do objetivo terapêutico, do estágio funcional do paciente, da presença de riscos associados e, principalmente, do tipo de distúrbio de movimento envolvido.
Vamos analisar de forma aprofundada como cada estratégia pode ser aplicada na prática clínica, seus benefícios, limitações e quando optar por uma ou outra abordagem — ou até combinar as duas.
Entendendo o contexto: por que treinar a marcha?
A marcha é uma função motora complexa, que exige controle postural, força, coordenação, ritmo, orientação espacial e adaptação ambiental. Em pacientes com distúrbios de movimento — como Parkinson, AVC, ataxias, distonias ou lesões encefálicas — esses mecanismos estão alterados em maior ou menor grau.
Nosso papel como fisioterapeutas não é "corrigir o andar", mas reorganizar padrões funcionais que permitam ao paciente caminhar com mais eficiência, segurança e economia de energia.
Treino de Marcha no Solo: a vida como ela é
O treino no solo é o mais próximo da realidade do paciente. Ele precisa lidar com irregularidades, obstáculos, desvios de atenção, interações com o ambiente e todas as variáveis que envolvem o dia a dia.
Vantagens:
- Permite treino de dupla tarefa (andar e conversar, andar e carregar objetos)
Estimula adaptação postural real a variações do ambiente
Favorece a integração com o contexto do paciente
Trabalha o componente antigravitacional de forma mais natural
É o treino mais funcional e transferível para a vida diária
Desvantagens:
- Pode oferecer mais risco de quedas, especialmente nos estágios iniciais
Difícil controlar o ritmo e a cadência em alguns pacientes
Pode gerar fadiga precoce se não houver boa reserva funcional
Treino de Marcha na Esteira: repetição, ritmo e foco motor
A esteira tem ganhado cada vez mais espaço na reabilitação de distúrbios neurológicos — principalmente com o avanço das estratégias de suspensão parcial de peso (BWSTT) e o uso de pistas sensoriais (auditivas e visuais).
Vantagens:
- Permite repetição intensiva de ciclos de marcha, essencial para aprendizado motor
Pode ser usada de forma precoce em pacientes com pouca resistência ou controle postural
Facilita o treino de cadência, ritmo e simetria
Possibilita suspensão de peso, reduzindo sobrecarga articular e risco de queda
Desvantagens:
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O ambiente é menos ecológico, o que dificulta a transferência funcional direta
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Não trabalha bem a adaptação a obstáculos ou mudanças de direção
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Pode gerar dependência sensorial ou rítmica em alguns perfis neurológicos
Requer supervisão constante e equipamentos específicos (em alguns casos)
O que dizem as evidências?
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Em pacientes com Doença de Parkinson, o treino na esteira com pistas auditivas mostrou melhora na cadência, comprimento do passo e simetria da marcha.
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Em pacientes pós-AVC, a esteira com suporte de peso corporal demonstrou melhores resultados nos estágios iniciais da reabilitação, mas o treino em solo teve maior efeito a longo prazo na funcionalidade real.
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Na ataxia cerebelar, o treino no solo com tarefas dinâmicas e estímulos sensoriais tende a ser mais eficaz para melhorar equilíbrio e coordenação.
Para distonias, é fundamental evitar a automatização de padrões errados — por isso, o treino no solo com foco na consciência corporal costuma ser mais seguro.
E então: esteira ou solo?
A melhor abordagem é aquela que faz sentido para o estágio funcional do paciente e para o objetivo terapêutico de cada fase do tratamento.
Estratégia prática:
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Fase inicial ou aguda (baixo controle postural ou força): Comece com treino em esteira com suporte de peso e pistas visuais/auditivas.
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Fase intermediária (reaprendizado do padrão de marcha): Use a esteira para treinar cadência, ritmo e simetria.
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Fase avançada (transição para funcionalidade real): Priorize treino no solo, com obstáculos, irregularidades, dupla tarefa e ambientes variados.
Fase de manutenção e prevenção: Combine ambos, promovendo variação motora e adaptabilidade.
Vamos concluir?
Não existe uma única resposta certa quando o assunto é treino de marcha. O segredo está em reconhecer a individualidade funcional de cada paciente, em saber quando intensificar e quando proteger, e, acima de tudo, em manter o foco na funcionalidade e na autonomia real.
A esteira é uma excelente ferramenta. O solo é insubstituível. O fisioterapeuta é quem traduz o movimento em estratégia.📘 Quer aprofundar sua atuação em pacientes com distúrbios de movimento e evoluir sua prática com base em evidências e raciocínio funcional?
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