Avaliação Neurofuncional nos Distúrbios do Movimento: Um Olhar Integrado

  

A avaliação neurofuncional de pacientes com distúrbios do movimento é um processo clínico complexo que exige um olhar atento, crítico e profundamente embasado na neurociência do movimento humano. Para o fisioterapeuta que atua tanto na área neurofuncional quanto ortopédica, compreender a integração entre os sistemas neuromuscular, sensório-motor e músculo-esquelético é fundamental para interpretar com precisão os sinais clínicos e direcionar intervenções terapêuticas eficazes.

A complexidade dos distúrbios de movimento

Os distúrbios do movimento englobam uma ampla variedade de condições neurológicas caracterizadas por alterações na coordenação, ritmo, fluidez, amplitude e controle motor. Isso inclui desde condições hipocinéticas, como a doença de Parkinson, até quadros hipercinéticos, como coreias, distonias ou tremores essenciais.

Diferentemente das disfunções musculoesqueléticas puramente periféricas, os distúrbios do movimento geralmente possuem origem central, afetando estruturas como gânglios da base, cerebelo e córtex motor. A repercussão funcional se manifesta na motricidade global e fina, na estabilidade postural, nos padrões de marcha e na capacidade de realizar tarefas motoras complexas.

Avaliação neurofuncional: mais do que observar, é compreender a função

O fisioterapeuta especializado deve conduzir a avaliação considerando três pilares interligados: função motora, integração sensório-motora e controle postural-dinâmico.

1. Função motora e controle voluntário

A análise do tônus muscular (hipotonia, hipertonia, rigidez), da força (não apenas em termos de torque, mas da capacidade funcional), da coordenação (dismetria, disdiadococinesia), da presença de movimentos involuntários e da seletividade motora é essencial. Através de testes clínicos como o UPDRS (para Parkinson), o SARA (para ataxias) e a escala de Ashworth modificada (para espasticidade), o fisioterapeuta consegue mensurar a gravidade e as características dos déficits motores.

2. Sistema sensorial e percepção corporal

Distúrbios do movimento frequentemente vêm acompanhados de alterações na propriocepção, na integração vestibular e na percepção tátil. Testes de discriminação sensorial, avaliação do esquema corporal e da resposta ao estímulo tátil e vestibular devem ser incorporados à avaliação. A qualidade do movimento está diretamente relacionada à integridade das aferências sensoriais.

3. Estabilidade postural e marcha

Alterações no controle postural estão presentes em quase todos os distúrbios de movimento, comprometendo o equilíbrio em repouso e durante tarefas dinâmicas. Ferramentas como o MiniBESTest, a Escala de Berg ou a Timed Up and Go (TUG) adaptada ajudam a quantificar o risco de quedas, mas também revelam estratégias compensatórias que podem ser reeducadas ao longo da intervenção fisioterapêutica.

Um olhar integrado exige raciocínio clínico apurado

A verdadeira avaliação neurofuncional não pode ser reduzida à aplicação de escalas padronizadas. Ela requer raciocínio clínico, conhecimento em neuroanatomia funcional, biomecânica, neuroplasticidade e, principalmente, escuta ativa e observação qualitativa. Cada paciente carrega uma história motora única, com estratégias adaptativas próprias — o fisioterapeuta precisa decodificar essas estratégias para propor um plano terapêutico que vá além da reabilitação sintomática e busque a restauração da funcionalidade com autonomia.

Vamos concluir?

Para o fisioterapeuta que atua com distúrbios do movimento, desenvolver uma avaliação neurofuncional integrada é o primeiro passo para um tratamento eficaz e centrado na funcionalidade real do paciente. Isso exige mais do que técnica — exige percepção clínica, base científica sólida e sensibilidade para entender que, por trás de cada padrão motor alterado, há um corpo tentando se reorganizar da melhor forma possível. Nossa missão é facilitar esse processo com ciência, propósito e movimento.

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