Distúrbios do Movimento em Crianças: Como a Fisioterapia Neurofuncional Atua Desde os Primeiros Sinais

 

Os distúrbios do movimento em crianças representam um grupo de condições neurológicas que afetam a qualidade e a coordenação dos movimentos voluntários e involuntários. Eles podem estar presentes desde o nascimento ou surgir nos primeiros anos de vida, comprometendo marcos motores, o desenvolvimento global e a participação da criança nas atividades diárias. Para o fisioterapeuta, identificar precocemente os sinais e saber conduzir uma intervenção baseada em evidência é essencial para favorecer o desenvolvimento neurofuncional.

Compreendendo os distúrbios do movimento na infância

Distúrbios como paralisia cerebral, ataxias, distonias, mioclonias, tremores e coreias compõem uma gama de disfunções motoras complexas, muitas vezes com sobreposição de sintomas. Essas manifestações podem surgir de lesões perinatais, doenças genéticas, síndromes metabólicas ou distúrbios neurodegenerativos.

É comum observar alterações como:

• Atraso no controle cefálico

• Movimentos assimétricos ou incoordenados

• Hiper ou hipotonia

• Presença de reflexos primitivos persistentes

• Padrões motores atípicos, como hiperextensão sustentada ou ausência de rotação axial

A avaliação neurológica e motora detalhada é um passo indispensável na definição do plano terapêutico. Ferramentas como GMFM, Alberta Infant Motor Scale, Test of Infant Motor Performance (TIMP) e avaliação clínica funcional baseada em CIF ajudam a mapear o impacto funcional e a evolução da criança.

Intervenção Fisioterapêutica: muito além do ganho motor

A atuação fisioterapêutica na infância com distúrbios do movimento precisa ser personalizada, centrada na funcionalidade e orientada por objetivos concretos.

Alguns pilares fundamentais da intervenção são:

• Treinamento sensório-motor com base na neuroplasticidade: o estímulo deve favorecer reorganização cortical, mesmo em sistemas neurológicos lesados. A repetição, a variabilidade e a significância da tarefa são aspectos centrais.

• Estabilização postural e controle proximal: fundamentais para o desenvolvimento de habilidades motoras finas e para a melhora da função global.

• Manejo de tônus muscular: uso de posicionamentos terapêuticos, mobilizações, técnicas de facilitação/inibição neuromotora, e integração com recursos como órteses, estimulação elétrica funcional (FES) e equipamentos de tecnologia assistiva.

• Foco na funcionalidade e participação: a intervenção precisa fazer sentido na vida da criança e da família. Não se trata de alcançar “movimentos perfeitos”, mas de garantir autonomia, participação social e bem-estar.

• Educação familiar: o fisioterapeuta também é educador. Ensinar pais e cuidadores a adaptar ambientes, estimular a criança e lidar com os desafios da rotina é essencial para o sucesso terapêutico.

A importância da abordagem interdisciplinar

Muitas dessas crianças apresentam necessidades múltiplas, o que exige uma abordagem compartilhada com neurologistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos. A atuação integrada potencializa os ganhos e evita abordagens fragmentadas.

Fisioterapeuta bem preparado faz diferença

O fisioterapeuta que domina os aspectos clínicos dos distúrbios do movimento na infância, compreende as janelas de neuroplasticidade e atua de forma sensível e proativa pode transformar o prognóstico dessas crianças. Por isso, a capacitação contínua é um compromisso com a prática responsável.

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