7 perguntas sobre o mal de Alzheimer


1. Afinal, o que é a doença?

Trata-se da destruição progressiva dos neurônios. A devastação começa no hipocampo, a área onde se processa a memória e, com o tempo, se alastra por outros cantos do cérebro. Por isso, ficam comprometidas funções cognitivas essenciais, como a gravação das lembranças e a orientação do indivíduo no tempo e no espaço.

"São dois os mecanismos por trás da doença", diz Paulo Caramelli, coordenador do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. "O primeiro é a formação das placas betaamilóides." Como elas aparecem? Explicamos: normalmente existem no cérebro proteínas precursoras de outro tipo de proteína, a tal betaamilóide. "Elas ficam ancoradas nas membranas dos neurônios, mas ainda não se sabe ao certo qual a sua função", conta Caramelli.

Num processo natural, essas proteínas são quebradas por enzimas e os seus fragmentos perdem-se em meio às células — nada disso, diga-se, oferece risco à cachola. O problema é quando, por motivos ainda obscuros, outras enzimas entram em ação para dividir as precursoras de betaamilóide. Elas quebram essas proteínas no lugar errado e o resultado dessa interação mal feita são novas proteínas. "Só que elas não são mais inócuas. Ao contrário, tornam-se tóxicas", afirma Caramelli. Essas novas moléculas, por sua vez, passam a depositar-se no cérebro, formando verdadeiras placas. "E isso prejudica as sinapses, a comunicação entre um neurônio e outro, o que os torna mais limitados", explica o neurologista. Resultado: as células nervosas morrem.

As explicações não param por aqui. Lembra-se do que dissemos? Existem duas alterações que disparam o Alzheimer. Vamos à segunda: um problema com outra proteína, a Tau. "Ela é produzida naturalmente no cérebro e é fundamental para o transporte de substâncias entre as células", descreve Caramelli. A Tau participa de uma verdadeira rede de comunicação e troca de nutrientes na massa cinzenta. "Mas, nos portadores de Alzheimer, essa proteína fica desestabilizada e não funciona como deveria. Daí, todo o equilíbrio entre os neurônios é prejudicado", diz Caramelli.

Essa profusão de alterações microscópicas leva à falência e à morte das células nervosas. No começo, a principal vítima é a memória recente. Gradualmente, as lembranças mais antigas também se esfarelam. E, com o avanço do mal, o órgão que comanda o corpo acaba se aposentando.

2. Por que esse problema neurodegenerativo aparece?

Ainda não existe uma resposta absoluta para essa questão. "Nós já sabemos que a predisposição genética e o próprio envelhecimento são seus principais fatores de risco", conta o geriatra Paulo Canineu, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Foram identificados recentemente vários genes alterados que determinam o mal", completa o médico, que é diretor clínico do Hiléa Vivência e Assistência a Idosos, em São Paulo. Além disso, a ciência vem demonstrando que as condições responsáveis pelos distúrbios cardiovasculares contribuem para a degeneração dos neurônios. Ou seja, gordura abdominal em excesso, diabete, colesterol nas alturas e pressão arterial elevada podem dar um bom empurrão.

Hoje alguns especialistas já arriscam dizer que existem duas variações de Alzheimer. "Noventa e cinco por cento dos portadores apresentam a doença esporádica, aquela que surge depois dos 60 anos sem que haja necessariamente a presença de outros casos na família", diz Canineu. "E 5% têm o que o chamamos de Alzheimer familiar. Só que, nesse caso, o mal pode acometer o indivíduo antes dos 60 anos e evoluir mais rapidamente", conclui.



3. Quais os seus sinais?

O principal deles é a constante perda de memória. As lembranças recentes tendem a se evaporar num piscar de olhos. "O indivíduo não consegue fixar nem um recado", exemplifica o geriatra Paulo Canineu. Além da memória em bancarrota, alguns portadores apresentam alterações de comportamento, dificuldades de concentração e tendem a ficar absortos em pensamentos distantes da realidade. "Muitos perdem a capacidade de julgamento e a orientação no tempo e no espaço", lembra o especialista. Com o progresso da doença, o indivíduo pode tornar-se depressivo e viver com alucinações.


4. Como são feitos o diagnóstico e o tratamento?

O diagnóstico é baseado na própria história do paciente. "Ele é feito por exclusão", conta o neurologista Paulo Caramelli. São avaliados os sintomas e, para afastar a possibilidade de outra encrenca, costumam ser solicitados exames de sangue e imagem, como ressonância da cabeça. "Hoje o diagnóstico tem entre 85% e 90% de segurança", constata o médico.

E o tratamento? Em primeiro lugar, é importante deixar claro que a doença ainda não tem cura nem o quadro pode ser revertido. Mas existem medicamentos que barram o seu avanço, o que permite o controle da degeneração. "Eles evitam a perda das funções cognitivas", diz o neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Núcleo de Envelhecimento Cerebral da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. São duas as classes de remédio responsáveis pelo benefício: os inibidores de acetilcolinesterase, mais receitados nos casos classificados como leves e moderados, e os antiglutamatos, indicados a portadores em estágio mais avançado. A apresentação é em forma de comprimidos, que devem ser tomados diariamente. A novidade é que a rivastigmina, um princípio ativo do primeiro grupo citado, já pode ser encontrada como adesivo para a pele.



5. Como afastar a doença?

Quando o assunto é Alzheimer, prevenção ainda é palavra controversa. Como os genes entram em jogo e algumas dúvidas rondam o mal, os médicos hesitam em prescrever medidas 100% eficazes. O que já se sabe, no entanto, é que botar a cabeça para funcionar é regra básica para protegê-la. Manter a massa cinzenta ativa — exercitando-se intelectualmente, trabalhando e interagindo com outras pessoas — aumenta as chances de se ver livre do mal. E o geriatra Paulo Canineu alerta: "Tanto o analfabeto quanto o catedrático podem ter Alzheimer. O grande perigo é se aposentar e parar de exercitar o cérebro."

Estudos recentes revelam, aliás, que os males cardiovasculares e o diabete tornam o organismo mais suscetível à doença neurodegenerativa. Dessa forma, conservar uma dieta equilibrada, com menos gordura e açúcar, praticar atividades físicas e tomar cuidados extras com a glicemia e a pressão arterial são medidas importantes para blindar a cabeça e fazê-la pensar por muito, muito tempo.


6. Até que ponto a perda de memória em razão da idade é normal?

O envelhecimento torna a memória, digamos, menos afiada. Isso é natural e não deve preocupar. "Com o passar do tempo as pessoas demoram mais tempo para se lembrar das coisas", observa o neurologista Ivan Okamoto. "É que as mudanças no cérebro afetam a velocidade do processamento da memória", explica. Vale esclarecer também que, independentemente da faixa etária, qualquer indivíduo está sujeito aos "brancos" e dificuldades de recordar uma data ou um nome. "A memória também depende do nosso estado geral, ou seja, se estamos cansados, mal alimentados ou alterados psicologicamente", salienta Paulo Canineu. "Por isso, lapsos podem acontecer em qualquer fase da vida."

O sinal de alerta deve ser acionado no momento em que as perdas de memória tornam-se freqüentes e passam a atrapalhar a rotina. "Isso acontece, por exemplo, quando a pessoa vai ao supermercado e não sabe como voltar de lá", diz Paulo Canineu. Ou, então, quando ela se esquece como se prepara aquele prato de sempre. Paulatinamente, vem esquecimento atrás de esquecimento. Isso impede que o indivíduo se mantenha atualizado e compromete suas atividades no dia-a-dia. Acentuam-se, assim, as suspeitas de que o responsável pela memória cada vez mais frágil seja o Alzheimer.



7. Por que o número de portadores de Alzheimer cresce mundo afora?

Os médicos esboçam duas explicações para o fenômeno. A primeira delas diz respeito à maior expectativa de vida das pessoas em todo o planeta. "A longevidade aumenta, inclusive no Brasil", lembra Paulo Caramelli. E a idade, como mencionamos, é um dos principais fatores de risco para a eclosão da doença. Em outras palavras, o risco aumenta na medida que os anos passam — tanto faz ser homem ou mulher. Outro motivo é a maior precisão nos diagnósticos. "Hoje os médicos conhecem mais a doença, estão cientes do que ela é", acredita o neurologista. No fim das contas, o próprio holofote que a medicina lançou sobre a doença propicia, felizmente, que mais casos sejam detectados e, conseqüentemente, tratados.



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