Saiba mais sobre o Mal de Alzheimer
O Mal de Alzheimer é uma doença silenciosa, que se mostra aos poucos. No Brasil, segundo o IBGE, estima-se que 1,2 milhões de pessoas sofram da doença - 100 mil novos casos por ano. Segundo Yolanda Boechat, geriatra e coordenadora do Centro de Referência em Atenção ao Idoso da UFF-RJ, o único fator universalmente aceito para o diagnóstico da doença é a idade. O histórico familiar também é levado em consideração, mas sem tanta precisão.
No entanto, conforme a evolução de pesquisas científicas, outros fatores que influenciam direta ou indiretamente o desenvolvimento da doença são descobertos. Segundo estudo realizado por pesquisadores do San Francisco VA Medical Center, Estados Unidos, sete hábitos podem ser fatores de risco para a demência: sedentarismo, uso de álcool, depressão, tabagismo, diabetes, hipertensão na meia idade e obesidade.
Aproximadamente 33,9 milhões de pessoas no mundo sofrem do Mal de Alzheimer. Dessas, segundo o estudo, 17,2 milhões de casos (que representam 51%) estão ligadas aos fatores citados acima. No entanto, vale ressaltar que as descobertas são frutos de pesquisas e ainda não são considerados fatores determinantes para o desenvolvimento da doença, embora a influência já seja conhecida.
De onde vem o Alzheimer?
Entender de onde vem esse tipo de demência cerebral facilita no entendimento dos fatores de risco. O neurologista e geneticista David Schlesinger, do Hospital Albert Einstein, explica que o Alzheimer surge do acúmulo de uma proteína chamada beta-amilóide no cérebro - que, na verdade, acontece em todas as pessoas.
"O que vai determinar que uma pessoa manifeste a doença ou não são duas coisas. Primeiro, o quanto de cérebro ela tem. Se ela usa mais o cérebro e estudou mais, resiste mais à lesão. A segunda coisa é o quanto de outras lesões pode estar presente", diz o neurologista, explicando que as demais lesões são provenientes de doenças cardiovasculares. O uso do cérebro, lembra Yolanda, contribui com o aumento de ligações entre os neurônios, retardando o aparecimento da demência.
Demência mista
A maioria dos fatores citados pela pesquisa do San Francisco VA Medical Center influencia a saúde cérebro-vascular. Cássio Bottino, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, explica que os indicadores fumo, obesidade, hipertensão e diabetes contribuem para o aumento de lesões que facilitam a perda de cognição do cérebro.
Há uma relação entendida pelos especialistas como demência mista: as doenças vasculares influenciam de tal forma o desenvolvimento do Mal de Alzheimer que, segundo Schlesinger, é raro encontrar pacientes cuja doença cresceu apenas graças ao aumento da proteína beta-amilóide. "A maioria das pessoas com demência tem Alzheimer e demência vascular", conta.
A geriatra Yolanda explica que a síndrome metabólica eleva a incidência de doença vascular cerebral, além de aumentar o estresse oxidativo. A síndrome é a associação de doenças como obesidade, hipertensão arterial, hiperglicemia (níveis elevados de açúcar no sangue), aumento dos níveis de triglicérides, diminuição dos níveis de colesterol "bom" HDL e aumento dos níveis de ácido úrico no sangue.
Em comum, todos esses males provocam um maior acúmulo de gordura no sangue, dificultando a circulação pelo corpo. Com isso, há um aumento de lesões microcardiopáticas, assim como a atrofia cerebral. O excesso de glicose no sangue, proveniente do diabetes, tem as mesmas consequências. Segundo a especialista, esses fatores, juntos, podem elevar a perda da memória em até 40%.
Hipertensão
A hipertensão funciona na mesma linha de danos. De acordo com Cássio Bottino, esse problema lesiona os vasos sanguíneos, em especial os do cérebro, que são muito sensíveis. A manutenção da pressão alta pelo organismo provoca lesões nos pequenos vasos cerebrais, sensíveis e vulneráveis. Danificados, eles acabam levando menos sangue, oxigenação e nutrientes para o cérebro.
O tecido cerebral é muito dependente da oxigenação do sangue. "Se há uma diminuição do fluxo sanguíneo e, consequentemente, da oxigenação, acaba existindo um risco de o cérebro perder função", esclarece. Segundo o estudo, o maior risco ocorre para portadores da hipertensão desde a meia-idade. Isso, segundo Bottino, acontece porque os grandes riscos acontecem pela manutenção da pressão alta. Quando uma pessoa desenvolve hipertensão, ela costuma mantê-la até o fim da vida, apenas cuidando de seu controle. Com o tempo, esse mal vai danificando os vasos sanguíneos do cérebro, levando à diminuição da parte do tecido cerebral em funcionamento.
Tabagismo e álcool
Outro fator indicado pela pesquisa é o tabagismo. "O fumo aumenta muito a exposição a uma maior lesão de qualquer célula, não só neuronal", conta Yolanda Boechat. No caso do cérebro, o cigarro acelera o processo de envelhecimento neurológico e atrofia cerebral, o que agrava as chances de Alzheimer. Além disso, lembra Cássio, é possível que o risco aumente por causa de pequenos infartos cerebrovasculares que aumentam a morte de neurônios.
Já o álcool pode ser uma faca de dois gumes, tudo depende da quantidade ingerida. Trabalhos científicos mostram que o consumo moderado atua em prol da saúde do coração e do cérebro, podendo retardar o aparecimento do Mal de Alzheimer. No entanto, segundo Yolanda, o consumo de mais de duas doses diárias aumenta em quase 10% as chances de ter distúrbios neurológicos. Bottino esclarece esse dado, dizendo que o alcoolista crônico terá perda de tecido cerebral - ou seja, o tamanho de seu cérebro diminuirá -, além de esquecimento e perda de memória recente.
Sedentarismo
A rotina sedentária também foi apontada como uma atenuante da demência. Além de a atividade física ser poderosa combatente da obesidade - um dos fatores apontados pelo estudo -, ela banha o cérebro com endorfina. Esse hormônio é um antioxidante responsável por fazer uma espécie de varredura no cérebro, como explica Yolanda. Assim, existe uma ação contra o envelhecimento cerebral. "A prática regular de atividade física também contribui com a irrigação sanguínea das células neuronais, melhorando as suas funções", conta a médica.
Depressão
Por fim, os pesquisadores indicaram a depressão como agravante do Alzheimer. A geriatra Yolanda Boechat conta que essa doença leva a pessoa ao isolamento social, fazendo com que ela tenha menor contato com outras pessoas. Com pouco contato, o portador da depressão acaba não usando muito a sua habilidade de memória social, diminuindo a capacidade de comunicação entre um neurônio e outro. "Se não for tratada, em longo prazo, a depressão pode levar à falência da área especifica da memória", diz. Além disso, acrescenta Bottino, a depressão tem sido associada à diminuição do hipocampo, região do lóbulo temporal associada ao processamento de memória recente.
Apesar de trabalhos científicos apontarem esses fatores como agravantes do Mal de Alzheimer, os três especialistas afirmam que as relações são parciais, ou seja, não existem estudos que definam com precisão a influência. Por isso, os setes fatores são considerados relacionados, e não determinantes, para o desenvolvimento da doença. Hoje, sabe-se que a melhor maneira de proteger o cérebro é mantê-lo ativo - com interação social, atividades de lazer e estudos.
Fonte: Minha Vida
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