Tratamento Fisioterapêutico no Traumatismo Raquimedular
As lesões medulares traumáticas são eventos catastróficos, cujas causas mais freqüentes são acidentes com veículos, ferimentos por arma de fogo, quedas (em atividades recreativas ou esportivas).1 A incapacidade resultante de agressão à medula espinhal ocorre mais freqüentemente nos jovens de nossa sociedade e é mais comumente resultado de traumatismos forçados.2
As fraturas da coluna são freqüentes na maioria dos serviços de neurocirurgia. Ocorrem aproximadamente 60 a 70 casos por 100.000 habitantes por ano, e 10% desses pacientes apresentam déficit neurológico. No Brasil, aproximadamente 140.000 fraturas de coluna a cada ano com 14.000 casos com déficit neurológico.
A coluna cervical é a mais comprometida e os pacientes envolvidos geralmente apresentam idades entre 15 e 35 anos. A reabilitação desses pacientes foi aprimorada nos últimos 40 anos e aumentou dramaticamente a sobrevivência e qualidade de vida. 3
Nos tipos de lesões traumáticas, incluem-se:
CHOQUE MEDULAR – É a perda de todas as funções neurológicas abaixo do nível da lesão medular, o que representa interrupção fisiológica, e não anatômica, da medula espinhal. Caracteriza-se por paraplegia flácida e ausência de atividade reflexa. A duração não costuma ser superior a 48 horas, mas pode persistir várias semanas. O retorno de atividades reflexas indicam o fim do choque medular. A ausência do retorno da motricidade ou sensibilidade abaixo do nível da lesão, após o choque medular, é indicativo de lesão irreparável.1
LESÃO MEDULAR COMPLETA- As funções motora e sensitiva estão ausentes abaixo do nível da lesão.1
LESÃO MEDULAR INCOMPLETA – Há alguma função motora ou sensitiva abaixo do nível da lesão.1
SÍNDROME MEDULAR ANTERIOR – A mais comum das lesões medulares medulares incompletas, caracterizada pela perda dos movimentos voluntários e da sensibilidade dolorosa, com preservação da sensibilidade tátil e vibratória. Geralmente ocasionada por lesão da artéria espinhal anterior.1
SÍNDROME MEDULAR POSTERIOR – Rara; particularizada pela perda da sensibilidade tátil e vibratória, com preservação da motricidade e sensibilidade dolorosa.1
SÍNDROME CENTRAL DA MEDULA – Costuma surgir na medula cervical, nas lesões por hiperextensão, em pacientes com espondilose preexistente. Caracteriza-se por tetraparesia de predomínio distal de membros superiores e anestesia suspensa (predomínio nos membros superiores e tórax, podendo estar preservada nos membros inferiores).1
SÍNDROME DE BROWM – SÉQUARD – Hemissecção da medula, que tem como principal etiologia os ferimentos penetrantes. Caracteriza-se por alterações da motricidade e sensibilidade profunda no mesmo lado da lesão e da sensibilidade dolorosa e térmica contralateral.1
SÍNDROME DO CONE MEDULAR – particulariza-se pela ausência da sensibilidade perineal, com perda de controle dos esfíncteres e alteração motora distal dos membros inferiores.1
Na fase aguda, o fisioterapeuta tem a meta primária de facilitar uma transição eficiente do paciente para a fase de reabilitação intensiva, tendo como proposta terapêutica: posicionamento correto; mudanças periódicas de decúbito; mobilização passiva e estiramentos suaves; iniciação gradual do ortostatismo; assistência respiratória; e orientação familiar.1
Na fase de reabilitação intensiva, o programa de reabilitação do lesado medular visa adequá-lo à utilização de todo o seu potencial funcional até o nível máximo de independência possível. A fisioterapia engloba, nesta fase, diversas atividades que devem ser adequadas às necessidades e potencialidades de cada paciente:
Relaxamento Muscular. Podemos considerá-lo como uma preparação do músculo para responder adequadamente às solicitações posteriores durante as atividades motoras, sendo necessário adotar posturas de relaxamento dos quatro membros em atitude de semiflexão e realizar mobilizações, respeitando o arco de movimento, de forma suave e lenta para não desencadear atividade reflexa indesejada, nem provocar lesões articulares. 1
Os movimentos passivos são essenciais para todas as articulações do membro superior sobre o qual o paciente não tem controle voluntário. A não ser que grande cuidado seja tomado, a amplitude de movimento das mãos é rapidamente perdida. Se o bíceps for ativo, mas o tríceps estiver paralisado, então a contratura ou flexão do cotovelo poderá constituir um problema. 4
Fortalecimento Muscular. O fortalecimento muscular é imprescindível ao processo de reabilitação do lesado medular, pois a independência também está sujeita ao preparo de toda a musculatura preservada. A estimulação dos grupos musculares preservados visa alcançar o potencial funcional do paciente, porém este trabalho de fortalecimento deve ser efetuado de forma cuidadosa, a fim de se evitar a instalação de deformidades por desequilíbrio muscular. O tipo de contração muscular utilizado na terapia pode ser isotônica (dinâmica), e isométrica (estática).1
Nos pacientes paraplégicos, o trabalho de fortalecimento dos membros superiores deve ser iniciado, já na fase aguda, para a realização das transferências, mudanças de decúbito, uso de cadeira de rodas ou órteses.5
Exercícios de Reeducação Neuromuscular. Toda a musculatura parética, visando a facilitação e educação para o desempenho de uma atividade funcional. Utilizam-se técnicas de facilitação e inibição para o controle da atividade reflexa medular.5
Condicionamento Cardiorrespiratório. A realização de atividades aeróbicas através do uso de ciclo ergômetros de membros superiores, cadeira de rodas ergométricas ou atividades na cadeira de rodas comum. As atividades esportivas também devem ser estimuladas nestes casos.5
Treino de Atividades Motoras. Rolar sentar, permanecer em quatro apoios, ajoelhar-se, transferências, ortostatismo e locomoção na cadeira de rodas ou com órteses devem ser treinados exaustivamente.
Treino de Atividades da Vida Diária. As atividades englobadas no treino das AVD`s são alimentação, higiene, vestuário (incluindo colocação e retirada de órteses), manejo de cadeira de rodas, e transferências.
O CASO
Paciente de 20 anos, sexo masculino, estudante, natural de Florianópolis SC, com diagnóstico de Traumatismo Raquimedular, com lesão em C5, C6 e C7 devido a mergulho em águas rasas, em fevereiro de 2002.
Na avaliação que foi realizada dia 20 de março de 2002, o paciente apresentava com PA( 120/80 ), ausculta pulmonar com murmúrio vesicular +, sem ruídos adventício. Sem transtornos de linguagem, audição ou função mental e para a visão utiliza-se de óculos para descanso. Nas atividades de vida diária o paciente não conseguia, tocar a cadeira de rodas em rampas muito íngremes, tomar banho sozinho ou segurar um copo por exemplo para tomar água; mas possui adaptações para comer, escovar os dentes e pentear os cabelos sozinho.
No exame físico a deformidade encontrada foi a falta de extensão total dos cotovelos, diminuindo assim a força que os membros superiores poderiam dar ao paciente quando ele fosse realizar as transferências sozinho da cama para cadeira por exemplo; já que isso é uma das limitações do paciente. Ainda no exame físico os membros superiores apresentavam-se hipotônicos e os membros inferiores com espasticidade, o paciente possuía sensibilidade tátil e dolorosa em membros superiores já de T2 para baixo não possuía. Na parte do equilíbrio o paciente não se mantinha sentado sozinho.
O tratamento fisioterapêutico foi realizado na clínica do CEFID da UDESC entre os dias 25 de março a 26 de junho de 2002, e os objetivos do tratamento foram manter a mobilidade em membros superiores e inferiores, ganhar força muscular de membros superiores, treinar as atividades funcionais com cadeira de rodas, diminuir a espasticidade, treino de equilíbrio na posição sentada. E as condutas fisioterapêuticas realizadas foram mobilizações passivas de membros superiores e inferiores, alongamentos e fortalecimentos de membros superiores, treino de tocar cadeira de rodas em rampas em várias direções com maior velocidade possível, colocação do paciente em posição ortostática, e treino de equilíbrio na posição sentada.
MÉTODOS
O artigo em questão enquadra-se no tipo descritivo, sob a forma de estudo de caso, através do qual pretende-se descrever o acompanhamento do tratamento de um paciente portador de seqüela de Traumatismo Raquimedular, através da avaliação e evoluções do paciente, a partir da abordagem fisioterapêutica utilizada.
A amostra foi composta por um sujeito, estudo de caso, portador de seqüela de Traumatismo Raquimedular, do sexo masculino, com idade de 19 anos, paciente da Clínica de Prevenção e Reabilitação Física do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desporto – CEFID, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
Os dados foram coletados nas sessões de tratamento fisioterapêutico e nas avaliações realizadas ao início e ao fim do tratamento.
Utilizaram-se como instrumentos para a coleta de dados: fichas de avaliação e de evolução diária; tatame; bola de 30 cm de diâmetro; caneleiras (0,5 Kg, 1 Kg e 1,5 Kg); therabands (nas cores: verde, azul, cinza, prata e dourado); cadeira de rodas para tetraplégicos, de marca Jaguaribe; travesseiros de espuma; espaldar; rampa de acesso à clínica na qual o tratamento foi realizado.
A ficha de avaliação fisioterapêutica foi o primeiro instrumento a ser utilizado. Nela estavam contidos os dados do paciente no momento da avaliação. Este instrumento foi utilizado novamente ao término do tratamento.
Na ficha de evolução diária estão descritas as atividades realizadas em cada sessão, a evolução do paciente, a data do atendimento, e número de sessões.
Os demais instrumentos foram utilizados nos exercícios cinesioterápicos, por ocasião do tratamento fisioterapêutico. É importante mencionar que os therabands apresentam uma escala de cores de acordo com a resistência (carga) imposta aos exercícios. A ordem crescente de resistência inicia-se pela cor amarela, seguindo-se pela cor vermelha, verde, azul, cinza, prata e dourado. As cores amarela e vermelha não foram utilizadas por serem de resistência inferior a necessária para causar fortalecimento muscular ao paciente que fez parte da amostra.
OS RESULTADOS
De acordo com tratamento fisioterapêutico realizado foi obtido resultados satisfatórios quanto a força muscular, mais especificadamente dos músculos bíceps, tríceps, deltóide, peitorais e extensores de punho. Nas primeiras sessões foi utilizado faixa elástica (theraband), de cor verde evoluindo no decorrer das sessões para cor dourada.
O resultado foi satisfatório também no que diz respeito ao treino de tocar cadeiras de rodas em rampas íngremes, o paciente adquiriu um aumento da distância percorrida, que no início era de 10 metros nas primeiras sessões chegando a 20 metros nas últimas sessões.
Na avaliação o paciente não possuía equilíbrio na posição sentada, com o treino nesta posição no decorrer das sessões o paciente consegui manter-se sozinho em média por um período de 5 minutos nas últimas sessões.
CONCLUSÃO
A lesão medular continua sendo um verdadeiro desafio para a equipe de saúde envolvida em seu tratamento, referente tanto aos aspectos de natureza curativa quanto reabilitativa de suas seqüelas. O tratamento curativo vem apresentando evolução ao longo dos tempos, entretanto sua implementação está na dependência dos recursos tecnológicos de difícil acesso.
No que se refere a recursos terapêuticos da reabilitação, também ocorreram sofisticações e evoluções, aumentando as possibilidades de ganhos funcionais. O ponto principal na recuperação do paciente com traumatismo raquimedular não está na aplicabilidade e acesso a tecnologias sofisticadas. A meta é realizar-se a prevenção das possíveis complicações, que pode ser feita através de medidas simples. Quando se têm pacientes orientados adequadamente desde o momento pós-trauma, que acabam evoluindo sem obter conseqüências evitáveis, a funcionalidade, e em decorrência a qualidade de vida, torna-se maior, dentro é claro dos limites impostos pela lesão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1-GREVE, J. M. D. A., CASALIS, M. E. P., FILHO, T. E. P. B. Diagnóstico e tratamento da lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca, 2001.
2-UMPHRED, D. A. Fisioterapia neurológica. 2 ed. São Paulo: Manole, 1994.
3-DOWNIE, P. A. Neurologia para fisioterapeutas. 4 ed. São Paulo: Pan-americana, 1988.
4-GREVE, J. M. D. A., AMATUZZI, M. M. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. 1 ed. São Paulo: Roca, 1999.
Fonte
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As fraturas da coluna são freqüentes na maioria dos serviços de neurocirurgia. Ocorrem aproximadamente 60 a 70 casos por 100.000 habitantes por ano, e 10% desses pacientes apresentam déficit neurológico. No Brasil, aproximadamente 140.000 fraturas de coluna a cada ano com 14.000 casos com déficit neurológico.
A coluna cervical é a mais comprometida e os pacientes envolvidos geralmente apresentam idades entre 15 e 35 anos. A reabilitação desses pacientes foi aprimorada nos últimos 40 anos e aumentou dramaticamente a sobrevivência e qualidade de vida. 3
Nos tipos de lesões traumáticas, incluem-se:
CHOQUE MEDULAR – É a perda de todas as funções neurológicas abaixo do nível da lesão medular, o que representa interrupção fisiológica, e não anatômica, da medula espinhal. Caracteriza-se por paraplegia flácida e ausência de atividade reflexa. A duração não costuma ser superior a 48 horas, mas pode persistir várias semanas. O retorno de atividades reflexas indicam o fim do choque medular. A ausência do retorno da motricidade ou sensibilidade abaixo do nível da lesão, após o choque medular, é indicativo de lesão irreparável.1
LESÃO MEDULAR COMPLETA- As funções motora e sensitiva estão ausentes abaixo do nível da lesão.1
LESÃO MEDULAR INCOMPLETA – Há alguma função motora ou sensitiva abaixo do nível da lesão.1
SÍNDROME MEDULAR ANTERIOR – A mais comum das lesões medulares medulares incompletas, caracterizada pela perda dos movimentos voluntários e da sensibilidade dolorosa, com preservação da sensibilidade tátil e vibratória. Geralmente ocasionada por lesão da artéria espinhal anterior.1
SÍNDROME MEDULAR POSTERIOR – Rara; particularizada pela perda da sensibilidade tátil e vibratória, com preservação da motricidade e sensibilidade dolorosa.1
SÍNDROME CENTRAL DA MEDULA – Costuma surgir na medula cervical, nas lesões por hiperextensão, em pacientes com espondilose preexistente. Caracteriza-se por tetraparesia de predomínio distal de membros superiores e anestesia suspensa (predomínio nos membros superiores e tórax, podendo estar preservada nos membros inferiores).1
SÍNDROME DE BROWM – SÉQUARD – Hemissecção da medula, que tem como principal etiologia os ferimentos penetrantes. Caracteriza-se por alterações da motricidade e sensibilidade profunda no mesmo lado da lesão e da sensibilidade dolorosa e térmica contralateral.1
SÍNDROME DO CONE MEDULAR – particulariza-se pela ausência da sensibilidade perineal, com perda de controle dos esfíncteres e alteração motora distal dos membros inferiores.1
Na fase aguda, o fisioterapeuta tem a meta primária de facilitar uma transição eficiente do paciente para a fase de reabilitação intensiva, tendo como proposta terapêutica: posicionamento correto; mudanças periódicas de decúbito; mobilização passiva e estiramentos suaves; iniciação gradual do ortostatismo; assistência respiratória; e orientação familiar.1
Na fase de reabilitação intensiva, o programa de reabilitação do lesado medular visa adequá-lo à utilização de todo o seu potencial funcional até o nível máximo de independência possível. A fisioterapia engloba, nesta fase, diversas atividades que devem ser adequadas às necessidades e potencialidades de cada paciente:
Relaxamento Muscular. Podemos considerá-lo como uma preparação do músculo para responder adequadamente às solicitações posteriores durante as atividades motoras, sendo necessário adotar posturas de relaxamento dos quatro membros em atitude de semiflexão e realizar mobilizações, respeitando o arco de movimento, de forma suave e lenta para não desencadear atividade reflexa indesejada, nem provocar lesões articulares. 1
Os movimentos passivos são essenciais para todas as articulações do membro superior sobre o qual o paciente não tem controle voluntário. A não ser que grande cuidado seja tomado, a amplitude de movimento das mãos é rapidamente perdida. Se o bíceps for ativo, mas o tríceps estiver paralisado, então a contratura ou flexão do cotovelo poderá constituir um problema. 4
Fortalecimento Muscular. O fortalecimento muscular é imprescindível ao processo de reabilitação do lesado medular, pois a independência também está sujeita ao preparo de toda a musculatura preservada. A estimulação dos grupos musculares preservados visa alcançar o potencial funcional do paciente, porém este trabalho de fortalecimento deve ser efetuado de forma cuidadosa, a fim de se evitar a instalação de deformidades por desequilíbrio muscular. O tipo de contração muscular utilizado na terapia pode ser isotônica (dinâmica), e isométrica (estática).1
Nos pacientes paraplégicos, o trabalho de fortalecimento dos membros superiores deve ser iniciado, já na fase aguda, para a realização das transferências, mudanças de decúbito, uso de cadeira de rodas ou órteses.5
Exercícios de Reeducação Neuromuscular. Toda a musculatura parética, visando a facilitação e educação para o desempenho de uma atividade funcional. Utilizam-se técnicas de facilitação e inibição para o controle da atividade reflexa medular.5
Condicionamento Cardiorrespiratório. A realização de atividades aeróbicas através do uso de ciclo ergômetros de membros superiores, cadeira de rodas ergométricas ou atividades na cadeira de rodas comum. As atividades esportivas também devem ser estimuladas nestes casos.5
Treino de Atividades Motoras. Rolar sentar, permanecer em quatro apoios, ajoelhar-se, transferências, ortostatismo e locomoção na cadeira de rodas ou com órteses devem ser treinados exaustivamente.
Treino de Atividades da Vida Diária. As atividades englobadas no treino das AVD`s são alimentação, higiene, vestuário (incluindo colocação e retirada de órteses), manejo de cadeira de rodas, e transferências.
O CASO
Paciente de 20 anos, sexo masculino, estudante, natural de Florianópolis SC, com diagnóstico de Traumatismo Raquimedular, com lesão em C5, C6 e C7 devido a mergulho em águas rasas, em fevereiro de 2002.
Na avaliação que foi realizada dia 20 de março de 2002, o paciente apresentava com PA( 120/80 ), ausculta pulmonar com murmúrio vesicular +, sem ruídos adventício. Sem transtornos de linguagem, audição ou função mental e para a visão utiliza-se de óculos para descanso. Nas atividades de vida diária o paciente não conseguia, tocar a cadeira de rodas em rampas muito íngremes, tomar banho sozinho ou segurar um copo por exemplo para tomar água; mas possui adaptações para comer, escovar os dentes e pentear os cabelos sozinho.
No exame físico a deformidade encontrada foi a falta de extensão total dos cotovelos, diminuindo assim a força que os membros superiores poderiam dar ao paciente quando ele fosse realizar as transferências sozinho da cama para cadeira por exemplo; já que isso é uma das limitações do paciente. Ainda no exame físico os membros superiores apresentavam-se hipotônicos e os membros inferiores com espasticidade, o paciente possuía sensibilidade tátil e dolorosa em membros superiores já de T2 para baixo não possuía. Na parte do equilíbrio o paciente não se mantinha sentado sozinho.
O tratamento fisioterapêutico foi realizado na clínica do CEFID da UDESC entre os dias 25 de março a 26 de junho de 2002, e os objetivos do tratamento foram manter a mobilidade em membros superiores e inferiores, ganhar força muscular de membros superiores, treinar as atividades funcionais com cadeira de rodas, diminuir a espasticidade, treino de equilíbrio na posição sentada. E as condutas fisioterapêuticas realizadas foram mobilizações passivas de membros superiores e inferiores, alongamentos e fortalecimentos de membros superiores, treino de tocar cadeira de rodas em rampas em várias direções com maior velocidade possível, colocação do paciente em posição ortostática, e treino de equilíbrio na posição sentada.
MÉTODOS
O artigo em questão enquadra-se no tipo descritivo, sob a forma de estudo de caso, através do qual pretende-se descrever o acompanhamento do tratamento de um paciente portador de seqüela de Traumatismo Raquimedular, através da avaliação e evoluções do paciente, a partir da abordagem fisioterapêutica utilizada.
A amostra foi composta por um sujeito, estudo de caso, portador de seqüela de Traumatismo Raquimedular, do sexo masculino, com idade de 19 anos, paciente da Clínica de Prevenção e Reabilitação Física do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desporto – CEFID, da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
Os dados foram coletados nas sessões de tratamento fisioterapêutico e nas avaliações realizadas ao início e ao fim do tratamento.
Utilizaram-se como instrumentos para a coleta de dados: fichas de avaliação e de evolução diária; tatame; bola de 30 cm de diâmetro; caneleiras (0,5 Kg, 1 Kg e 1,5 Kg); therabands (nas cores: verde, azul, cinza, prata e dourado); cadeira de rodas para tetraplégicos, de marca Jaguaribe; travesseiros de espuma; espaldar; rampa de acesso à clínica na qual o tratamento foi realizado.
A ficha de avaliação fisioterapêutica foi o primeiro instrumento a ser utilizado. Nela estavam contidos os dados do paciente no momento da avaliação. Este instrumento foi utilizado novamente ao término do tratamento.
Na ficha de evolução diária estão descritas as atividades realizadas em cada sessão, a evolução do paciente, a data do atendimento, e número de sessões.
Os demais instrumentos foram utilizados nos exercícios cinesioterápicos, por ocasião do tratamento fisioterapêutico. É importante mencionar que os therabands apresentam uma escala de cores de acordo com a resistência (carga) imposta aos exercícios. A ordem crescente de resistência inicia-se pela cor amarela, seguindo-se pela cor vermelha, verde, azul, cinza, prata e dourado. As cores amarela e vermelha não foram utilizadas por serem de resistência inferior a necessária para causar fortalecimento muscular ao paciente que fez parte da amostra.
OS RESULTADOS
De acordo com tratamento fisioterapêutico realizado foi obtido resultados satisfatórios quanto a força muscular, mais especificadamente dos músculos bíceps, tríceps, deltóide, peitorais e extensores de punho. Nas primeiras sessões foi utilizado faixa elástica (theraband), de cor verde evoluindo no decorrer das sessões para cor dourada.
O resultado foi satisfatório também no que diz respeito ao treino de tocar cadeiras de rodas em rampas íngremes, o paciente adquiriu um aumento da distância percorrida, que no início era de 10 metros nas primeiras sessões chegando a 20 metros nas últimas sessões.
Na avaliação o paciente não possuía equilíbrio na posição sentada, com o treino nesta posição no decorrer das sessões o paciente consegui manter-se sozinho em média por um período de 5 minutos nas últimas sessões.
CONCLUSÃO
A lesão medular continua sendo um verdadeiro desafio para a equipe de saúde envolvida em seu tratamento, referente tanto aos aspectos de natureza curativa quanto reabilitativa de suas seqüelas. O tratamento curativo vem apresentando evolução ao longo dos tempos, entretanto sua implementação está na dependência dos recursos tecnológicos de difícil acesso.
No que se refere a recursos terapêuticos da reabilitação, também ocorreram sofisticações e evoluções, aumentando as possibilidades de ganhos funcionais. O ponto principal na recuperação do paciente com traumatismo raquimedular não está na aplicabilidade e acesso a tecnologias sofisticadas. A meta é realizar-se a prevenção das possíveis complicações, que pode ser feita através de medidas simples. Quando se têm pacientes orientados adequadamente desde o momento pós-trauma, que acabam evoluindo sem obter conseqüências evitáveis, a funcionalidade, e em decorrência a qualidade de vida, torna-se maior, dentro é claro dos limites impostos pela lesão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1-GREVE, J. M. D. A., CASALIS, M. E. P., FILHO, T. E. P. B. Diagnóstico e tratamento da lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca, 2001.
2-UMPHRED, D. A. Fisioterapia neurológica. 2 ed. São Paulo: Manole, 1994.
3-DOWNIE, P. A. Neurologia para fisioterapeutas. 4 ed. São Paulo: Pan-americana, 1988.
4-GREVE, J. M. D. A., AMATUZZI, M. M. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. 1 ed. São Paulo: Roca, 1999.
Fonte
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